quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Derrota

Eram 5 e 30 em caracteres quadrados como a cidade. O que significa que eu estava 1 hora e meia atrasada para a sala de esperas. Desci do ônibus não porque aquele fosse meu ponto, mas porque o grande contingente médio me fez crer que ali devia estar o mais próximo supra-sumo do ego comercial: nossa querida Moreira césar. Parece loucura se perder numa provincia tão pequena. Solucionar o problema baseado em sociologia do mesmo só pode ser lisérgico. Mas as pessoas continuam indo de encontro a sua previsibilidade, e eu não poderia estar mais certa. Todavia, conferi a placa antes de saltar: não quero meu alter-ego dizendo por aí que eu tenho um parafuso a menos.
A fila se formou como se acabasse em "comida de graça". Foi até bonito: quando o primeiro do grupo soltou um sonoro "obrigado", provocando nos passageiros descentes um efeito dominó que conferiu ao motorista certo ar de homem do dia. Repetiram um por um, cada um com o constrangimento pessoal de não ser o único mal agradecido. Ou apenas o de não ser o único. Se eu ainda usasse meu chapéu de capitão, faria a eles um elogio enfático. Mas essas passadas são água e, chegando por aqui, eu até retrato as ofensas.
Naqueles tempos de maresia eu colocava as medalhas e dizia a tripulação transeunte as boas maneiras do navio. Dava troféus aos acertos e repreensões aos erros, sem jamais dividir os meus. A aparente intenção corretora não era boa. Era tentativa de impor a costa um formato ético muito pessoal, baseado em culpas e verdades únicas. Como se vê em tantos barcos, menores mas nem por isso menos desbravadores.
Há muito deixei ao cabideiro aquele chapéu. É pesado demais o barco das aflições morais e o seu leme deixa os mares traiçoeiros. Entre mortos e feridos tudo é gente. Tudo é digno de miradouro. Não por mérito, mas pela redenção do observador. As cicatrizes, como as tatuagens, viram esmero na elasticidade da derme.

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